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FAROESTE CABOCLO: As sequelas do progresso

05/01/2010

Nunca refleti tanto sobre a conveniência de escrever ou não um artigo com o tema que aqui vou abordar. Ontem, ao deitar, antecipei uma parte do meu pensamento para minha esposa e mãe do meu filho mais novo. Ela disse: “Isto é muito chocante! Não sei se estou em uma fase que aceite este tipo de informação. Estou amamentando uma criança de apenas 3 meses…”. Então fiquei sem sono, pensando se compartilhava ou não com meus leitores a angústia do que vi e ouvi em minha visita ao município de Anori. Decidi, justamente pelo meu filho de apenas 3 meses de idade, escrever sobre o assunto para que possamos nós, pessoas com alguma consciência positiva, fazer uma avaliação, uma reflexão e, talvez, utopicamente falando, possamos colaborar para que no futuro não mais presenciemos tais fatos.

Todos sabemos que uma das grandes obras recém implantadas no Amazonas foi a construção do Gasoduto Coari/Manaus. E se para muitos esta obra é vista como símbolo de progresso e desenvolvimento, para outros ela vista por um prisma de grande angústia, ao assistirem uma das mais indignas perversões possíveis do ser humano.

Esta grande obra usou por algum tempo, como base de suas operações, a cidade de Anori, que de repente foi “invadida” por uma massa de pessoas. Técnicos, engenheiros, operadores de máquinas e todo tipo de gente. Pessoas que vinham carregando o progresso literalmente “nas costas”, conhecidas como “laranjinhas” (uma referencia aos macacões que usavam).

Trouxeram agitação para a cidade, além de derramar parte dos seus polpudos salários em uma economia incipiente, rural e com baixíssimas possibilidades de desenvolvimento. Enfim alguma coisa acontecera a esta esquecida comunidade. Novos restaurantes, algumas lojas e até mesmo um “novo” hotel foi construído.

Então começaram a aparecer as sequelas. Muita gente de fora, com dinheiro no bolso e, pasmem, com “educação” também, passaram a buscar a diversão sexual! Com quem? Adivinhem? Isto mesmo, o óbvio, com as meninas da cidade. Prostituíram e viciaram crianças de 14, 13 (e até menos) anos de idade, meninos e meninas, estimulados pelo tal de “mel”, que é uma mistura de pasta base de cocaína com alguns produtos químicos de efeito mortal. Os que escapam do vício acabam ficando com “surtos psicóticos e depressivos”, que levam inclusive ao suicídio.

A obra acabou, seus personagens foram embora deixando tubos no meio da mata e um rastro de memória condenável na cidade.

Ainda bem que Anori, apesar de pacata, tem em sua população pessoas de grande envergadura moral e familiar, conselheiros tutelares, professores, igrejas, etc. E a maioria do povo da cidade se revolta contra isso e está tentando “reparar” o mal que fizeram a uma juventude que vivia sem esperança, especialmente pela falta de políticas públicas de sustentação econômica e social verdadeiramente eficazes e dignas.

Vai falar em distribuir R$ 50,00/mês de Bolsa floresta para eles! Isto ofende, eles não querem esmolas, querem dignidade, trabalho e respeito! E nós aqui, os beneficiados pelo gasoduto, vai uma dica: Quando acenderem o fogo do seu fogão para cozinhar uma deliciosa caldeirada, lembrem-se da chama do sofrimento deixado na esteira deste progresso.

Manaus já deve a Anori a vida de algumas crianças! E eles precisam da nossa ajuda.

PS: Evitei me aprofundar nas histórias por uma questão de respeito à cidade de Anori e a todos os pais e mães de Manaus. Mas por aí vocês podem imaginar o que aconteceu…

COPA 2014: só uma observação.

03/01/2010

A partir de alguns comentários e observações feitas nas perguntas que me foram encaminhadas via Formspring.me, decidi voltar ao tema COPA 2014 em Manaus.

Um dos leitores comentou: “(…) Já não basta financiarmos os estádios e o sistema viário?“, referindo-se ao ônus imposto a população pela criação da Taxa de Lixo.

A resposta eu já escrevi anteriormente aqui neste blog. O povo da cidade de Manaus e do Amazonas é quem vai pagar a conta de quase R$ 6 BILHÕES, estimados para serem investidos pelo direito de sediar a Copa 2014.

E foi exatamente por isso, por termos demonstrado uma imensa capacidade de renúncia em investir em educação, saúde, saneamento básico e outras prioridades, para investir neste “mega-evento internacional”, é que nossa cidade foi escolhida.

Entendo que a grande maioria do povo é favorável a realização dos quatro ou seis jogos a que teremos direito, como cidade-sede, mesmo “cientes” de que todos estes investimentos sairão dos cofres públicos do Amazonas e de Manaus.

Os investimentos no sistema viário (metrô de superfície e o novo sistema de ônibus) serão financiados pelo Governo Federal, mas terão um dia que ser pagos.

Um moderno sistema de coleta, destinação e tratamento de lixo, sustentável sobre o prisma ambiental e muito mais moderno que o atual, deverá ser implantado na cidade. A que custo? A polêmica Taxa do Lixo é uma destas formas de arrecadação de recursos. E olha, se uma parcela significativa desta cidade já é contra, imaginem então quando começar a chegar a “fatura” da FIFA em relação a renúncia fiscal, novos controles de segurança, infra-estrutura hoteleira… De onde será que vai vir o dinheiro?

Ainda bem que, nesse caso, oposição e situação são favoráveis a realização da COPA 2014. O Serafim teve um papel decisivo ao assinar a inscrição de Manaus na concorrência para o direito de sediar. O Eduardo teve a responsabilidade de capitanear o processo de “convencimento” dos técnicos da FIFA. Ainda lembro-me da Vanessa e do Eron no palanque “emocionados” com a festa por ocasião do anúncio oficial. Até o Arthur que era oposição radical ao Governo do Estado entendeu como uma grande conquista. E ao Amazonino sobrou a responsabilidade “insalubre” de preparar a cidade.

Bom! Definido que todos são a favor de que Manaus seja sub-sede da Copa 2014, mãos à obra!

Vamos começar a pensar em como arrumar o dinheiro para esta aventura, quais serão os benefícios de médio e longo prazo que poderão advir deste evento. Melhor utilização dos resíduos da cidade? Aeroporto novo? Outro estádio? Novos hotéis? Novo sistema de transporte coletivo? Não esqueçam: junto com tudo isso vem a conta!

Quem vai pagar a conta levanta a mão!

Ainda sobre a Taxa do Lixo: Opinião Respeitada?

02/01/2010

Confesso que fiquei bastante entretido observando como uma opinião divergente pode provocar tanta polêmica e discussão. Este blog, ainda em fase inicial, nunca foi tão visitado, criticado, polemizado e etc., e em apenas alguns dias superou a marca de 3.000 acessos.

Independente da polêmica visão que defendi, sendo favorável a implantação da referida taxa em Manaus, assustou-me um pouco o radicalismo e agressividade com que algumas pessoas passaram a me criticar. Pelo amor de Deus, gente! Será que o fato de alguém ter uma opinião diferente da que você pensa é motivo suficiente para tanta “violência verbal”? Convenhamos, isto não é nem um pouco democrático. Em qualquer sociedade moderna, o contraponto e a divergência de pensamentos e opiniões são salutares e ajudam a criar soluções.

Resolvi escrever um post em resposta a uma série de indagações que me foram feitas, pois como havia me comprometido, toda as vezes que perguntas encaminhadas via Formsping.me, reincidentes e coincidentes, merecessem uma resposta mais aprofundada, escreveria um artigo com minha opinião. Longe, muito longe, de querer que vocês concordem com estas opiniões, valem, estes singelos textos, como a expressão de um pensamento que invariavelmente pode estar errado.

Mas vamos ao que interessa:

Uma pergunta (anônima) contesta a informação que publiquei relacionada à arrecadação tributária (Receitas Próprias) do município de Manaus, descrevendo ainda que a fonte que lhe parecia mais confiável seria o site Impostômetro, que indica que a cidade não arrecada os pouco mais de R$ 375 milhões que afirmei em minha resposta, e sim mais de R$ 2 bilhões de reais. Só neste ano!

Realmente não me estranha que tanta gente acabe sendo induzida a criticar e se posicionar contra a taxa de lixo, no entanto a informação do perguntador é errada! Voce não pode confundir ORÇAMENTO com Receita Tributária, aliás esta é justamente a estratégia propagada por aqueles que simplesmente querem incendiar, “politizando” um assunto tão sério para a cidade. Basta qualquer cidadão acessar o site da Prefeitura Municipal no link Transparência e clicar no item RECEITAS – Novembro, que poderá ter acesso aos dados oficiais de arrecadação tributária de Manaus. Para os que não querem se dar ao trabalho, adianto. O valor acumulado, neste ano, de impostos e taxas são os seguintes:

IPTU – R$ 52.841.106,89
ITBI – R$ 17.618.021,98
ISSQN – R$ 263.037.470,48
IRRF – R$ 41.720.448,36
TOTAL DA ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS = R$ 375.217.047,71
(+) TAXAS DIVERSAS ARRECADADAS = R$ 29.504.322,72

Espero ter esclarecido os leitores quanto a REAL arrecadação tributária própria de Manaus (até novembro de 2009).

Pergunto: Alguém sabe dizer quanto a cidade gastou só com a folha de pagamento dos efetivos e com as empresas que fazem a coleta de lixo?

Despesas com Pessoal (EFETIVOS) = R$ 550.037.680,73
Estimada Despesa com Coleta de Lixo = R$ 94.000.000,00

Ou seja, a cidade não deve, e não pode, demitir os funcionários públicos efetivos da Prefeitura. Além de ilegal, seria extremamente injusto tanto com o funcionalismo quanto para com o cidadão que sentiria mais ainda a baixa qualidade dos serviços públicos, desta feita pela falta de pessoal.

As despesas com a coleta de lixo, bem como a destinação e tratamento, devem sofrer uma melhoria substancial para podermos cumprir com a nossa obrigação em relação à COPA 2014, elevando mais ainda os atuais gastos. Como fazer se a cidade tem uma arrecadação tributária própria que não dá nem para pagar a sua folha de pessoal efetivo e se as despesas com o lixo (atuais) são maiores que toda a arrecadação de IPTU e ITBI juntos?

É preciso buscar sim o melhor equilíbrio fiscal para a cidade, insisto, pois quem ganha é o cidadão!

Agora, para aqueles que contestam a Taxa de Lixo porque entendem que os impostos e a arrecadação são mal utilizados pelo poder público, por favor, FISCALIZEM o uso e a aplicação do dinheiro, mas não me venham dizer que os impostos e taxas não são necessários. Contestem os administradores, não os instrumentos de sobrevivência da própria sociedade organizada em uma cidade.

PS: Passadas as festas de final de ano, retorno agora com mais textos. Pelo menos uma atualização diária.

Feliz 2010 para todos!